Estamos sempre vendo o urgente e não o mais importante. Pensar no que surgirá nas próximas décadas é um exercício de muitas reflexões, sobretudo sobre quais devem ser as políticas públicas necessárias hoje para garantir a educação que queremos no futuro.[1]Jeane C. Meister e Karie Willyerd, especialistas em recursos humanos e autoras do livro “O Ambiente de trabalho de 2020”, afirmam que se pensarmos os anos de 1990 como a década “e” – e-learning, e-books e e-libraries – podemos visualizar 2010-2020 como a década do “S” da mídia social, da rede social e aprendizagem social. Este aprendizado não precisa ser elaborado e imposto de maneira vertical. Em vez disso, pode se tornar participativo, social, divertido, atraente e, acima de tudo, integrado com o trabalho. Enquanto a “Aprendizagem 1.0” dependia muito do que era ensinado em sala de aula, a “Aprendizagem 2.0” foi acrescida pelo aprendizado via Internet. Agora, a “Aprendizagem 3.0” ou aprendizagem social incorpora ao conhecimento a mídia social, jogos, feedback em tempo real e com simulações. A aprendizagem social produz novos conhecimentos a partir de uma interação social: uma mensagem de texto, um post no Facebook, um comentário em um blog, uma entrada em uma wiki, uma palestra acessada de um celular ou uma percepção adquirida depois de visualizar e comentar um vídeo no YouTube. Todos interagem, todos trocam informações, e todos aprendem. Os universitários de hoje não querem ser mais espectadores e meros participantes, desejam ser protagonistas. Desejam intervir, criar, exercitar e colaborar com base nas suas experiências de vida. E este é, sem dúvida alguma, o melhor processo de aprendizagem. Estamos fazendo esta reflexão porque o ensino brasileiro – em todos os graus, com raras exceções – ainda está mais atrelado ao século XX do que aos novos tempos das tecnologias de informação e comunicação. Como país não acertamos o pé sobre o que desejamos dominar como pauta para a educação do século XXI. Precisamos, antes de tudo, perceber e conhecer o mundo à nossa volta, as pessoas, as empresas, os negócios, o ambiente, os sinais, as imagens, os sons. Precisamos fazer um reconhecimento do contexto que nos cerca e de tudo o que procuramos compreender e comunicar. Não há bola de cristal na educação. O que devemos é impor um domínio de leituras do mundo. Precisamos ainda desenvolver outras competências específicas, tais como as definidas em quatro categorias pelo Consórcio Assesment Teaching of Twenty- First Century Skills Project (ATC21S), liderado pela Universidade de Melbourn, em colaboração com países, organizações internacionais, pesquisadores, empresas e instituições de ensino. São elas: 1) Maneiras de Pensar – criatividade e inovação, pensamento crítico, resolução de problemas, tomada de decisões, capacidade de aprender a aprender e metacognição; 2) Ferramentas para o trabalho – tecnologia da informação e alfabetização digital; 3) Formas de trabalhar – comunicação e colaboração; 4) Maneiras de viver no mundo atual – cidadania, responsabilidade pela própria vida, desenvolvimento profissional, pessoal e social. Por sua vez, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) adota uma concepção de competências socioemocionais que envolve: 1) Capacidade de atingir objetivos – perseverança, autocontrole, entusiasmo para alcançar objetivos; 2) Trabalhar colaborativamente – cordialidade, respeito, cuidado; 3) Gerir emoções – calma, otimismo e confiança. Sabemos que a leitura, a compreensão de textos, a matemática, as ciências serão sempre os grandes pilares da educação. Os currículos, no entanto, para se adequarem ao mundo atual, deverão incluir amplo domínio digital, liderança e participação colaborativa. Será preciso ainda ter a percepção clara sobre quais são as competências e as habilidades que os jovens precisarão dominar – além das técnicas que se aprendem nos sistemas educacionais – para que participem efetivamente das atividades profissionais e se realizem na sociedade deste século XXI. Percebemos que são muitas as questões postas para as nossas reflexões e que não podemos analisar todas elas no espaço desse artigo. Mas por certo pretendemos dar continuidade a esses instigantes temas em textos futuros. Tomemos, por oportuno, dois deles: “criatividade” e “metacognição” – citados na categoria n.º 1, “ Maneiras de pensar”, do ATC21S. A criatividade – competência bastante esquecida na educação brasileira – apresenta-se como metodologia para abrir a mente das pessoas aos desafios da vida diária e não simplesmente como “dádiva de Deus” aos artistas. A criatividade vem sendo discutida há muito tempo e representa, há mais de sessenta anos, nos Estados Unidos, um valoroso campo de pesquisa. A nosso ver, ela é chave para a inovação e empreendedorismo, áreas em que o Brasil tanto precisa avançar e deslanchar. A “metacognição” – mesmo sem considerar as diferentes definições de caráter social, psicológico ou das ciências cognitivas – administra todo o nosso modelo de pensar. Somos o que pensamos e fazemos e, portanto, precisaremos antes de tudo dominar a nossa mente. Para refletirmos melhor sobre este tema, fomos buscar apoio na tese de doutorado de Graciela Inchausti de Joua e Tânia Mara Sperbb – “A metacognição como estratégia reguladora da aprendizagem”: “Imaginem como seria nossa vida se não tivéssemos consciência de nossos próprios pensamentos? Como poderíamos planejar nossas ações e corrigi-las quando estas não ocorrem como esperado? Como poderíamos monitorar nossos comportamentos e adequá-los frente a cada exigência com a qual nos deparamos? Como poderíamos escolher a maneira mais adequada de estudar ao longo de nossa vida acadêmica? Sim, podemos fazer tudo isto a cada instante devido à capacidade de nosso pensamento de pensar-se a si mesmo e de encontrar soluções para as questões da vida”. Nos próximos anos, o conceito de metacognição deverá se tornar cada vez mais importante para escolas que se preocupam em desenvolver estratégias não apenas para que seus alunos aprendam, mas também para que “aprendam a aprender”. Retomando o pensamento de Meistter e Karie, fica evidenciado que o processo colaborativo entre pessoas e organizações, hoje maximizado pela tecnologia digital, é o melhor meio de aprendizado, pois nele estarão envolvidos não só as multidões, mas também os experientes cidadãos de bem, ávidos em demonstrar seus talentos para a solução dos problemas das comunidades. Finalmente, lanço um desafio dentro da estratégia colaborativa: Que tal refletirmos juntos sobre todas essas questões e começarmos um movimento para dar um jeito na República Federativa do Brasil? [1] porvir.org.br